Uma das visitas realizadas pelo SP Meeting no terceiro dia do evento foi na Central de Movimentos de Luta pela Terra – CMLT – no Acampamento Roseli Nunes, Ocupação Monte Verde e Assentamentos Milton Santos em Americana e Elisabeth Teixeira em Limeira, São Paulo. Na visita, que também contou com a presença de representantes das cooperativas Braço Forte, Camponesa e Maranata que atuam na região, foram observadas práticas de produção sustentável, proporcionando a troca de conhecimentos sobre soluções e dificuldades operacionais, com foco na importância de parcerias científicas para o desenvolvimento local. “Para nós é muito bom receber vocês aqui porque precisamos muito dos professores cientistas. Nos sentimos mais fortes para lutar por nossos direitos e tomar decisões, quando vocês estão junto.“ Falou satisfeito o presidente da Associação de Moradores, Jânio Carneiro de Oliveira.
No local foram observadas as três fases de luta por território: acampamento, ocupação e assentamento. Primeiro monta-se um acampamento geralmente em beira de estradas ou outras vias secundárias próxima da área em conflito, faz-se posterior a ocupação que pode ser de longo prazo ou curto para haver a negociação através do Estado, rural INCRA ou ITESP, ou através do REURB, se for urbano. “Em Americana temos todas as modalidades, num território de maior conflito urbano da Região Metropolitana de Campinas, a 5° maior do Brasil e 3° em renda per capita.” Explicou o arquiteto Victor.
Entre os projetos visitados, um dos destaques foi a produção de tijolos ecológicos. A construção de uma casa de 30 metros quadrados requer uma média de 7.000 tijolos, produzidos artesanalmente. Esse processo leva cerca de três meses e permite flexibilidade na construção.
Os professores Marcos Tognon (Unicamp) e Valdemir Rosa da Escola da Cidade que trabalham com Ciencia Cidadã explicaram que realizaram testes empíricos para otimizar a qualidade dos materiais e soluções técnicas para a produção dos tijolos com terra de boa qualidade, e “cura úmida” por até 90 dias. “O sistema incorpora práticas tradicionais e inovações para criar soluções mais sustentáveis, aproveitando o potencial local,”concluiu Tognon.
Outro ponto relevante observado na visita é o sistema de saneamento, que conta com unidades autônomas e um biodigestor ecológico que purifica a água a um nível próximo de 100%, permitindo seu reuso nos sanitários. “Apesar dos avanços, ainda são muitos os desafios. A visita técnica no Workshop possibilitou aos pesquisadores uma aproximação dos agentes sociais e movimentos socioterritoriais de luta pela terra, habitação, urbanismo e a questão da crise climática neste territórios desassistidos pelo poder público.” Ressaltou Nallígia Tavares, coordenadora da visita e pesquisadora do INCT Klimapolis/ Mackenzie.
E esse objetivo da atividade do SP meeting, de aproximar cientistas e pautas sociais voltadas para questões climáticas, foi devidamente atingido, de acordo com depoimento da Professora Dra. Marise Costa, pesquisadora do INCT klimapolis/UFRN. “ A visita foi um momento de muitas reflexões. Nosso conhecimento teórico precisa dialogar e se inspirar na prática do cotidiano das pessoas. A terra urbana como direito está contida no Estatuto da Cidade, integrando o direito à cidade sustentável. É preciso conhecer uma realidade como essa para buscarmos contribuir com as formas de efetivação desses direitos.” Concluiu.