Arquitetura, território e participação comunitária na crise climática: a programação da tarde do quarto dia do SP Meeting

A tarde do quarto dia do SP Meeting INCT Klimapolis, realizado no auditório da Oca durante a Bienal Internacional de Arquitetura, foi dedicada a reflexões que cruzam arquitetura, memória, território e participação comunitária diante da crise climática. As atividades se organizaram em dois grandes blocos de apresentações, que se complementaram na busca por compreender como diferentes olhares podem ajudar a imaginar futuros possíveis para cidades mais resilientes e sustentáveis.

O primeiro bloco, intitulado “Para além da arquitetura: o papel do arquiteto na crise climática”, trouxe reflexões sobre como a profissão pode expandir seu campo de atuação diante das transformações ambientais e sociais em curso. As apresentações tiveram início com propostas voltadas para resgatar a importância de pensar o espaço de modo simbólico e ecológico ao mesmo tempo. Em seguida, a pauta se voltou à regeneração urbana e às novas ecologias possíveis em áreas desativadas, indicando como territórios esquecidos podem ser reativados a partir de uma perspectiva de transição e de cuidado com o ambiente.

O debate seguiu com a ideia de que todo território é também uma invenção, construída pela memória, pelo patrimônio e pelos imaginários ligados à floresta. Essa reflexão abriu espaço para que fossem apresentadas experiências internacionais voltadas a economias e ecologias híbridas como forma de enfrentar a violência territorial, evidenciando que o urbanismo pode dialogar diretamente com dinâmicas sociais e políticas. Por fim, a sessão destacou a necessidade de assumir a arquitetura como um papel em branco, em que arquitetos e arquitetas se colocam como incorporadores de futuros, capazes de propor caminhos criativos e de longa duração frente aos desafios climáticos.

O segundo bloco de apresentações abordou o tema “Planos comunitários de redução de risco em tempos de crise climática”, com foco no planejamento participativo e na valorização do saber das comunidades que convivem diretamente com a vulnerabilidade ambiental. A discussão partiu da experiência de territórios vulneráveis e práticas locais de resiliência em Fortaleza, no Ceará, destacando a potência das iniciativas de base comunitária. Na sequência, foram apresentados retratos das enchentes de 2025, trazendo ao debate as marcas deixadas por desastres recentes e as urgências que eles impõem ao planejamento urbano.

O debate também contemplou os desafios e potencialidades da participação popular na elaboração de planos municipais de redução de risco, a partir de experiências em municípios paulistas, e avançou na reflexão sobre metodologias de planejamento comunitário participativo de rotas de evacuação. Nesse caso, a ênfase esteve na cartografia social como instrumento de redução de riscos em contextos de desastres hidrológicos e climáticos, reafirmando o valor do conhecimento construído coletivamente. Para concluir, as apresentações abordaram o tema “Quem imagina o futuro?”, problematizando a importância da cooperação internacional em processos de adaptação climática, tomando como exemplo as ilhas urbanas de Porto Alegre e ressaltando como o planejamento popular pode ser estratégico para antecipar cenários e fortalecer a resiliência local.

Com esse percurso, a tarde se consolidou como um momento de convergência entre teoria e prática: de um lado, a necessidade de repensar a arquitetura a partir da memória, do imaginário e da invenção dos territórios; de outro, a urgência de incluir comunidades na linha de frente da construção de estratégias contra os riscos climáticos. O encontro mostrou que enfrentar a crise exige tanto a criação de novos horizontes pela arquitetura quanto o fortalecimento das vozes locais, em um processo contínuo de cooperação e imaginação coletiva.