Mudanças climáticas em foco: Tércio Ambrizzi destaca aumento da temperatura global e impacto do CO₂ em palestra no SP Meeting

O professor Tércio Ambrizzi, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), apresentou nesta terça-feira (24/09), no auditório da Oca, no Parque Ibirapuera, uma análise sobre os impactos das mudanças climáticas globais, durante a abertura do SP Meeting -INCT Klimapolis, evento que integra a programação da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

Ambrizzi iniciou sua exposição lembrando que, desde o início do século XX, a temperatura média global tem registrado uma tendência clara de crescimento. “Se olharmos os registros entre 1881 e 2022, percebemos oscilações, mas a curva é ascendente. Nas primeiras décadas do século passado, a anomalia estava abaixo de zero. Com o passar dos anos, especialmente a partir da década de 1970, a média passou a se manter consistentemente acima da linha de referência, chegando em alguns momentos a ultrapassar 1°C de aumento”, explicou.

O pesquisador também apresentou dados sobre a concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, que vêm sendo medidos desde 1858. Segundo ele, a curva mostra um aumento contínuo, diretamente relacionado às atividades humanas, sobretudo à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento. “As emissões não param de crescer e estão diretamente conectadas ao aquecimento global que observamos”, reforçou.

A palestra ressaltou ainda que, apesar de as temperaturas apresentarem variações naturais, a tendência de crescimento contínuo e acelerado é inequívoca. Ambrizzi destacou a necessidade de políticas públicas robustas e de um esforço internacional conjunto para mitigar os efeitos da crise climática e adaptar as cidades aos novos desafios impostos por esse cenário. “Nas primeiras décadas do século passado, a anomalia estava abaixo de zero. A partir dos anos 1970, ela passa a se manter sistematicamente acima da linha de referência, chegando a ultrapassar 1°C de aumento em alguns períodos recentes”, observou.

Outro ponto marcante da exposição foi a análise sobre a perda de gelo nas calotas polares. Segundo Ambrizzi, trata-se de um processo acelerado e com efeito de retroalimentação. “À medida que a linha do gelo vai se retraindo, você perde parte da superfície branca que reflete a radiação solar. Sem essa camada, os raios solares aquecem e se acumulam, o que intensifica ainda mais o derretimento. É um ciclo positivo que leva à diminuição sistemática do gelo”, explicou.

Para ilustrar, o climatologista lembrou também das geleiras que vêm se retraindo desde a década de 1960. “Essas mudanças não são mais projeções futuras, mas processos em curso, com impactos ambientais, sociais e econômicos”, alertou.

Ao final, Ambrizzi reforçou que os desafios impostos pela crise climática exigem respostas integradas. “As soluções passam pela ciência, mas também pela mobilização social, pelo engajamento das cidades e pela articulação de políticas públicas internacionais”, destacou.

Esse fenômeno, conhecido como efeito de retroalimentação positiva, preocupa cientistas em todo o mundo, porque acelera a elevação das temperaturas e multiplica impactos. Entre eles, estão a elevação do nível do mar, a perda de habitats naturais e alterações em correntes oceânicas e padrões climáticos que influenciam o planeta inteiro.“Essas transformações não são mais projeções para o futuro: elas já estão acontecendo. O que vemos hoje é resultado direto das emissões de gases de efeito estufa ao longo de mais de um século”, alertou.

Para o climatologista, é essencial que a sociedade compreenda a gravidade da situação e pressione por soluções coletivas. “O gelo polar é um termômetro do planeta. Quando ele derrete, não é só o urso que perde seu habitat, é toda a humanidade que sofre as consequências. Precisamos de mais políticas públicas, mudanças no consumo e compromissos globais para frear esse processo”, defendeu.

O debate integra a programação do SP Meeting – INCT Klimapolis, que reúne especialistas, lideranças comunitárias e gestores públicos para discutir estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas e de construção de cidades mais resilientes.

A  Conferência Ciências do Clima, Teoria Ator Rede e os Laboratórios do Mundo Real, que encerrou as atividades do primeiro dia do evento, contou também com a palestra de Stelio Marras.  O debate foi mediado pelas pesquisadoras Rita Ynoue e Ana Paula Koury.